História de Parto da Manu
13/12/21 – faz hoje 5 meses que a Gabriela nasceu e tenho em mim tudo tão vivo como se fosse hoje o dia!
Eram 6h30 quando o meu sono profundo foi interrompido por um líquido a escorrer pelas pernas. “elah, isto não é chichi” pensei eu. A bolsa estava a dar sinal mas rapidamente parou. Com o lábio a tremer fui avisar o C. (marido) que estava de saída para o trabalho mas tranquilizei-o com um, “vai que isto ainda vai demorar”. Os nervos (ou o início do trabalho de parto) fizeram-me uma grande limpeza intestinal. Voltei para a cama mas não dormi mais e planeei o meu dia mentalmente.
8h – Acordo o meu filho mais velho para o ir levar à creche, estava a sentir-me bem! Sem grandes esforços e com muita colaboração lá fomos, e de hora a hora refazia mentalmente o meu dia.
10h – Saio da creche e continuo com o sentimento de “feeling ok!”. Tinha marcada a minha primeira consulta de acupuntura de preparação para o parto às 11h e decido ir na esperança de aquela consulta me dar alguma serenidade. Informo o C. e sigo.
11h – Chego à consulta. As dores não eram dores mas sim uma ligeira moinha menstrual muito fraca. Fazemos a sessão e eu só pedi em tom de brincadeira: “Filipa, não aceleres muito isto que eu ainda tenho que ir sozinha de carro para a margem sul!!” (sabia lá ela!) Sessão de acupuntura feita, massagem no sacro, cábula de como usar os óleos essenciais, a moxa e todas as mezinhas. Check, e já saio um pouco depois das 12h com as moínhas ligeiramente mais fortes.
12h30 – Chego a casa, oriento o máximo que consigo e as “dores menstruais” começam a ficar fortes mas suportáveis. Estava preocupada, não com as dores mas com o teste do covid.
12h50 – A coisa intensifica (quem mandou ir arrumar a casa!!) ligo ao C. para vir porque temos que ir fazer o teste mas novamente o tranquilizei porque demorava 50min até casa (e eu ainda tinha que esperar pela empregada que chegava às 14h e era o primeiro dia dela connosco!).
13h40 – O pai chega numa pilha de nervos e prepara já malas para pôr no carro e… Leva um STOP porque “só” vamos a Lisboa fazer o teste e voltamos (Até porque eu ainda queria tomar banho)!
14h – Chega a empregada, apresento a casa e saímos a correr.
14h30 – Chegamos, damos entrada, uma eternidade com burocracias e formalidades, fazemos o teste. Contracções de 2 em 2 minutos mas duravam 20 a 30 segundos. Tinham que demorar 1 minuto para irmos ao hospital (dizia eu).
15h30 – Saímos de volta a casa e ligo à Cristina que prontamente me diz que vai largar as consultas e eu recuso porque ainda ia tomar banho e estava a falar bem entre contrações. Ele aceitou meia que contrariada. A viagem já foi sofrida.
16h20 – Chego a casa, subo pelo meu próprio pé e sento-me no sofá, de onde já não saí sem ajuda. As contrações já eram brutais. Vocalizava cada vez mais alto e só pedia que a empregada não me chateasse com palpites, que o C. chegasse sem o meu outro filho. Já não estava capaz de falar e queria que ele ligasse à Cristina. Subiu e supliquei pela Cristina. Ligou e perguntou quanto tempo demorava. Veio a resposta: “o tempo de passar a ponte”, saiu a correr das consultas.
Das 16h às 17h – Estive em várias posições sem o mínimo de alívio de dor, estava trânsito e a Cristina não chegava! Decidi tomar banho de água gelada tal eram os 40 graus daquele dia e na esperança de algum abrandamento. Só chamava pela Cristina no meio das imensas contracções, sem descanso aparente. Esteve em alta voz connosco o tempo todo a acalmar-nos. Já mal me conseguia mexer dentro da banheira, já pressentia algo. As contrações eram fortíssimas com poucos segundos de intervalo, os olhos já não abriam, as vocalizações saiam já descontroladas.
17h10 – A Cristina diz que está a chegar para nos irmos preparando. Eu já de cócoras na banheira sinto vontade de fazer cocó, faço força e faço! A cabeça já ali estava, bolas! Senti a coroar, a dita coroa de fogo.
17h15 – A Cristina chega e diz ao C. para ir pôr o carro à porta com tudo lá dentro. Ninguém sabia o estado avançado da situação porque eu mal falava! Chega ao pé de mim, dá-me um abraço e sinto-a a mil batimentos, pega em mim, tira-me da banheira e veste-me sem me secar. Vem uma contração e eu digo-lhe que não vamos para o hospital que a bebé vai nascer e ela responde rapidamente “não sejas tonta, não vai nada”. Dispo-me num ápice e fica a olhar para mim. Vem outra contracção, a Cristina agacha-se e diz, “pois, não vamos não porque eu já estou a ver cabelo. Bom, então bora lá!” Senti no tom dela a mudança de planos! Acalmou-me os gritos de medo para gritos de força e fé, ajudou-me a sair desse registo passado.
17h21 – O C. sobe a correr e chega ao WC com ar de, “então, estou à vossa espera” ao que a Cristina diz “Já não vamos sair, C. agacha-te e recebe a tua filha que ela vai nascer!” Não o vi, mas rapidamente se agachou e foi o primeiro colo que a nossa filha recebeu! Sentados no chão do WC, incrédulos olhamos um para o outro e ele diz… “É esta an?!” A Cristina amparou-nos, chegou no momento certo!
Enfiada na cama, seguiram-se mais 30min de contrações dolorosas para expulsar a placenta e foi o tempo da minha obstetra e parteira chegarem e aí sim, pude respirar de alívio. Começa aqui nossa bolha de amor!
Perto das 20h esta equipa deixou-me, garantindo que eu, a bebé e a restante família estávamos bem, orientados e alimentados. Foram a tribo que precisei e estiveram sempre lá nos dias seguintes quando achei que não era capaz, chamei-lhes muitas vezes” a equipa perfeita”. Como eu e a Gabriela estávamos bem, conversamos e foi opção nossa não ir para o hospital.
Ficamos em casa, só nós, por vezes senti dúvidas mas esta equipa esteve sempre lá para mim!
O universo mostrou-me o quão poderosa eu sou, deu-me ferramentas físicas e emocionais para sarar feridas antigas, parto antigo e eu só tive que aceitar, confiar em mim e nos meus! Porque quando confiamos em nós, tudo está bem!
Empoderei-me sem saber, e que bom qUE tem sido este novo caminho que se abriu de auto descoberta. Nada acontece por acaso 🙂
Confiem.