Tânia e Luís
O contrário do medo? É o amor. O amor.
Foi ele a resposta. O amor foi a chave da história do parto do Benjamim.
Era amor nos dias antes de entrar em trabalho de parto, quando me sentia especialmente mulher. Sensual e animalesca.
Foi amor que entrou pela janela nessa manhã – uma borboleta branca e uma bolsa rompida – anunciando a transformação que se iniciara.
Era amor que nos envolvia, a mim e ao Luís, enquanto rodopiavamos casa fora nessa manhã, emocionados e ainda incrédulos, à medida que o destino cumpria o seu curso.
Foi amor que recebi pelas mãos da Cristina. Um amor que me guiou. A raiz que me manteve agarrada à terra, para que não receasse abalar-me para onde tinha que ir. Foi a experiência e a sabedoria ancestral que me permitiram confiar e entregar-me.
Havia amor à minha espera no hospital. Pelas mãos da Mariana. Um amor que me escudou contra quem deixou de acreditar no poder das mulheres. Um amor que me informou, me escutou e garantiu que eram cumpridos os meus desejos, com respeito e segurança.
E era amor que me acompanhava para todo o lado, como uma sombra, pelos braços do meu marido. Acreditou em mim, nas minhas escolhas e nos meus instintos, tantas vezes ainda mais do que eu própria. Foi a minha força. A minha luz. O meu conforto. O meu lugar seguro. Presenciou todos os meus passos. Deu-me presença e liberdade. Foi sereno. Quase invisível, mas absoluto.
E foi para um lugar de amor que me deixei levar. As escolhas haviam sido feitas. O ninho estava arranjado. Os dados estavam lançados: a partir dali o percurso estava fora do meu controlo. E foi por isso que me entreguei. Deixei-me transportar para um lugar de intensidade e irracionalidade. De garra e depois brandura. Para um lugar de preto no branco. De tudo ou nada. Era um lugar tão profundo dentro de mim que às vezes me esquecia que havia uma vida cá fora a acontecer. Nesse lugar houve dor. Até um pouco de solidão. Mas houve sobretudo aceitação. E certeza. E coragem.
Queria ter segurado o Benjamim com as minhas mãos quando nasceu, mas estava longe, naquele tal lugar só meu. Dentro de mim havia uma voz que me repetia que cedesse…e cedi até poder. Cedi até ao limite. Até à beira do abismo. E foi nesse ponto, quando achei que não ia aguentar mais, que me lembrei que podia ter levado uma epidural! Respirei fundo. Gritei com a alma e com a força toda. E foi então que o Benjamim nasceu. Lá longe ouvi o choro de um bebé e uma voz que chamava: “toma, olha, é o teu bebé!”. Numa fração de segundos que me pareceu eterna, atravessei dois universos e voltei… ainda confusa e desnorteada, para enfim abraçar o meu bebé.
Afinal fui capaz. Afinal somos todas capazes!