Daniela e Gerson Alves

Desde o início de nossa gravidez optamos pelo parto normal. Essa decisão foi baseada nos relatos e comprovação científica dos benefícios tanto para a mamã quanto para o bebé, além de ter minha mãe como exemplo, pois pariu nove filhos de forma natural. Afinal, o trabalho de parto, com toda explosão hormonal envolvida, prepara tanto a mãe para enfrentar a nova vida que se inicia a partir dali, inclusive com relação à amamentação, quanto o bebé, para sua vida fora do útero. 

Por volta da 34ª de gravidez, em uma das minhas pesquisas sobre parto normal humanizado, li sobre o papel da doula nesse processo. Até então, não tinha conhecimento dessa profissional. Pesquisei mais sobre o assunto e decidimos, eu e meu marido, que teríamos uma doula para nos conduzir por esse maravilhoso caminho do tão sonhado parto normal. Após inúmeros contactos, nos indicaram Tarsila Carvalho Leão, Psicóloga de formação, Doula e Especialista em aleitamento materno. Em nosso primeiro contacto, ela perguntou se tínhamos um Plano de Parto. Não fazíamos ideia do que se tratava. Então, fomos super bem direcionados por ela, que, além dos esclarecimentos necessários, também nos enviou vários artigos, relatos e o Guia de Orientação para Parto Normal da OMS. Com base no material que nos foi enviado e nas suas orientações, fizemos nosso plano de parto.

Plano de parto pronto, levamos para nossa obstetra, que desde o início aceitara “fazer” o parto normal, mas que não esperaria mais de 40 semanas. Enfim, na 38ª semana fiz a última Ecografia, onde foi detetado polidrâmnio (aumento de líquido amniótico) e João Gabriel não havia encaixado, para além disto, estava com o estreptococos do grupo B positivo. Ao levar o resultado para minha obstetra, fomos surpreendidos com um verdadeiro “banho de água fria”, pois ouvimos a seguinte frase: “com esse polidrâmnio e o estreptococos B positivo, o parto normal vai pra o beleleu. Vamos marcar esse parto para sábado 25/01”. Naquela data estaria completando 39 semanas. Saí do consultório arrasada. Chorava muito e não me conformava com aquela situação. Liguei para minha doula e ela também inconformada com o motivo que me levaria a uma cesárea, conseguiu marcar com uma das obstetras mais renomadas dentro do parto humanizado para buscarmos uma segunda opinião sobre o assunto. Eu e meu marido, já havíamos conversado e decidimos ir em busca do protagonismo de nosso parto. 

Fomos ao encontro com a obstetra humanizada, que fez uma avaliação completa e concluiu que eu poderia sim aguardar a hora de JG. Agora tínhamos uma difícil decisão; mudar de obstetra com 39 semanas de gravidez. A Dra. supracitada não tinha mais vaga em sua agenda e nos indicou Dra. Camila Rabelo, também obstetra humanizada. Marcamos uma consulta e, quando fomos atendidos, ou melhor, acolhidos por

Dra. Camila, não tivemos dúvidas: essa seria nossa nova obstetra. Saímos do consultório radiantes e felizes; ganhamos uma nova chance de lutar pelo parto normal. 

Combinamos que aguardaríamos até a 42ª semana, caso chegasse o prazo estipulado, e eu não tivesse entrado em trabalho de parto, o mesmo seria induzido, sendo a cesárea a última opção, caso tivesse alguma necessidade intraparto. 

Exatamente uma semana depois da primeira consulta, na madrugada do dia 31/01/14, às 04:45, o primeiro sinal de JG avisando que já estava querendo chegar. As contrações me acordaram várias vezes durante a noite, quando finalmente senti algo diferente, levantei-me para ir à casa de banho, quando percebi que estava saindo algo, imediatamente chamei Géu. Era o tampão mucoso acompanhado com um pouco de líquido e rajadas de sangue. Ligamos para enfermeira obstetra, da equipa de Dra. Camila, que me acompanharia no trabalho de parto em casa até o momento certo de irmos para o hospital. Após avaliação, fomos tranquilizados de que ainda não estava na hora, eram apenas os primeiros sinais, os chamados Pródromos. 

O dia foi longo; as contrações mantinham-se irregulares e adentramos a noite de sexta para sábado com aumento na intensidade e menos espaçadas. O sábado, 01/02/14, foi exaustivo. À noite estavam em minha casa, eu, meu marido, minha doula, a enfermeira obstetra e Carol, fotógrafa que nos presenteou com

seu trabalho maravilhoso e de grande sensibilidade, onde pode registar momentos de grande emoção. Era pouco mais de 23h e eu precisava descansar, pois seria difícil passar mais uma noite sem dormir. Elas prepararam chás, escalda pés e uma sessão de relaxamento, que me fizeram descansar pelo menos umas 3h seguidas, até retornarem as contrações que me faziam gritar pela madrugada a dentro. No domingo, 02/02/14, tomamos o pequeno almoço e fomos caminhar na areia da praia e tomar água de côco. Ainda estava na fase de latência do trabalho de parto e me exercitar ajudaria no processo. O dia foi passando, as contrações cada vez mais próximas e com maior intensidade. A noite chegou e por volta das 21h eu já estava com 6/7 centímetros de dilatação. A enfermeira entrou em contacto com a Dra. Camila, que vinha acompanhando todo o trabalho por telefone e fomos orientados a irmos para o hospital. Internamos umas 23:30h e a madrugada foi de muito trabalho, exercícios na bola suíça, banhos quentes e muita energia liberada nas contrações cada vez mais fortes. Apesar da dor, eu estava muito feliz, vivendo intensamente o meu trabalho de parto. 

Segunda-feira às 09h, com 8/9 centímetros de dilatação, optamos por uma amniotomia (rutura da bolsa para induzir o parto). Muito líquido foi retirado. As contrações a partir daquele momento eram enlouquecedoras, mas o apoio de meu marido, da Tarsila, da Dra. Camila, da Carol, enfim, de toda a equipa, foi fundamental para que eu resistisse.

Após 3h de bolsa rota, a notícia que nos deixou desapontados: o bebé estava em apresentação facial, o que impossibilitaria o parto normal. Naquele momento tínhamos que passar por um procedimento cirúrgico, a cesárea, para que nosso filho nascesse bem. Essa notícia causou grande comoção em toda equipa, mas era necessário. Cheguei a pensar, meu Deus, nadei tanto para “morrer na praia”? Foi um momento muito difícil, de choro, reflexão, mas logo depois de refletir sobre tudo que passamos nos três dias em que estivemos em trabalho de parto, vi que foi a experiência mais linda e rica que vivemos. Não nos arrependemos de nenhuma decisão que tomamos e faríamos tudo novamente… 

Mesmo com todo o cenário já delineado, Dra. Camila, em sua sensibilidade, profissionalismo e humildade, nos disse que, quando chegássemos ao centro cirúrgico, faria um último exame de toque, para verificar se ocorrera alguma mudança que viabilizasse a realização segura do parto normal. 

Às 12:40, do dia 03/02/14, através de cesárea, nasceu nosso tão amado e esperado filho João Gabriel, medindo 50,5cm e pesando 3,450g. 

Como sempre dissemos, DEUS está no comando. ELE trouxe à luz nosso filho JG, através das mãos da Dra. Camila e sua brilhante equipa, a quem muito agradecemos. 

DEUS abençoe JG e a todos nós! Gratidão!��